Ideias
As ideias como semente
brotam,
Por dentre as volutas de meu
cérebro.
Como vermes em meus lobos,
Que se alimentam de meu
córtex.
Agonizam-se por toda a
caixa.
Por vezes, parecem escorrer
pelos tímpanos.
Em gritos ensurdecidos.
A chamar minha atenção.
A gritar em vão - Cá estou.
Em labirintos, as ondas
propagam-se,
Como num instrumento de
sopro.
A gritar em notas.
Em claves, fusas, semifusas.
Ouça-me, cá estou.- a ideia.
Muitas vezes preferira ser
acéfala.
Para que não brotassem
tantas.
Vil coisa que vira imensa.
Palavras soltas que viram contos.
Em minha garganta engasgam,
Rasgam minha laringe.
Até que por fim,
Num movimento involuntário,
Dedo a garganta, vomito-as.
Em jatos caem com letras
garrafais.
Como gotas de sangue na
terra.
Gotas de letras no papel.
Formando textos de palavras
diversas.
Arremessas às linhas,
certas.
Outrora dispersas.
Sem nexo.
Agora em ordem, tomam o
rumo.
Descansam, enfim, ao serem
escritas.
Escrever as sacia.
Escrever as sossega.
* “(...) escrever é enfiar um dedo na garganta.
Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a,
transforma.
Pode sair até uma flor.
Mas o momento decisivo é o dedo na garganta (...)”
Agora sim, tenho sossego.
Não mais me atormentam.
Soltas no papel,
Ganham vida própria.
Transformam-se em jardim.
Às vezes em pântano,
Depende da intensidade.
Da brutalidade,
Delas, as idéias.
Alforriam-me,
Libertam-me.
Deixam-me.
Até a próxima leva.
O próximo pelotão.
O próximo jato.
Enquanto houver hemisférios.
Córtex, lobos, laringes,
garganta.
Ideias.
Escrevo.
Fabiana Coelho Guaranho
*ABREU, Caio Fernando. Da Cólera ao Silêncio
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pelo comentário.Voltem sempre.