
Ópera Prima
Cada rabisco, rascunho de ti aprimoro, crio e transformo.
Na perspectiva de teus olhos, ponto de fuga de meu ser me jogo, me afogo,
Descompasso meus traços, arrisco.
Risco teu croqui à pena, plena forma de desejo que a mim condena, me vejo,
Me perco nas formas rudes, detalhes, volutas, estrutura da tua crua arquitetura,
Mescla de estilos.
Observo a dor, ex-quadro decô do meu peito abstrato,
do corte que sangra nanquim não mais sangue de fato.
Queria eu a ti projetar,invento após moderno intento
Criar tua fachada de gosto tão eclético, tão louco,
Entalhar, insculpir
Cada anjo, arcanjo teu, barroco
Cada querubim matizar,
Cada friso teu ornar,
Cada cornija coroar,
Cada forro teu rematar,medir, calcular.
Cada metro teu quadrado, avaliar, captar, raptar.
Cada olhar teu luzente, luzido jamais me privar.
Cada prisma translúcido teu, transpor.
Queria eu a ti moldar, modelar.
Cada norte teu direcionar, opor.
Mas quem sou?
Nada sou para tamanha obra, ópera prima ostentar.
Mas qual artista é capaz de planejar tão perfeita construção?
Não, não me vejo apta, hábil.
Nada sou.
Porém, no entanto,"humil-demente" peço, anseio e num último pedido, suspiro, devaneio...
Queria eu a ti me dar.
Fabiana Guaranho